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quinta-feira, junho 23, 2011

Erasto, os falsos profetas e o critério espírita

"Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem.
Esses falsos profetas, para melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar maior importância às suas teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes que os homens só pronunciam com respeito. São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos, que os levam a isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser.
Cegos, portanto, são os homens que se deixam enganar de maneira tão grosseira. Mas há ainda muitos outros meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso.
Lembrai-vos, ainda, de que, quando uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que possuem médiuns sérios, e não a este ou aquele, com exclusão dos outros. Ninguém é médium perfeito, se estiver obsidiado, e há obsessão evidente quando um médium só recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado que este pretenda ser. Em consequência, todo médium e todo grupo que se julguem privilegiados, em virtude de comunicações que só eles podem receber, e que, além disso, se sujeitam a práticas supersticiosas, encontram-se indubitavelmente sob uma obsessão bem caracterizada. Sobretudo quando o Espírito dominante se vangloria de um nome que todos, Espíritos e encarnados, devemos honrar e respeitar, não deixando que seja comprometido a todo instante.
É incontestável que, submetendo-se ao cadinho da razão e da lógica toda a observação sobre os Espíritos e todas as suas comunicações, será fácil rejeitar o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado e um grupo enganado; mas, o controle severo dos outros grupos, com o auxílio do conhecimento adquirido, e a elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos, as comunicações dos principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade dos Espíritos mais sérios, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos e astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou malfazejos.” (Erasto, discípulo de São Paulo. Paris, 1862.)
O critério da concordância universal
“A melhor garantia de que um princípio é o expressar da verdade se encontra em ser ensinado e revelado por diferentes Espíritos, com o concurso de médiuns diversos, desconhecidos uns dos outros e em lugares vários, e em ser, ao demais, confirmado pela razão e sancionado pela adesão do maior número. Só a verdade pode fornecer raízes a uma doutrina. Um sistema errôneo pode, sem dúvida, reunir alguns aderentes; mas, como lhe falta a primeira condição de vitalidade, efêmera será a sua existência.” (Capítulo XXXI, pág. 474, Livro dos Médiuns.)
O Codificador do Espiritismo, também em "O Livro dos Médiuns", já elucidava quanto às intenções dos Espíritos quando estes se prontificavam a realizar previsões e revelações retumbantes:
"De que serve o ensino dos Espíritos, dirão alguns, se não nos oferece mais certeza que o ensino humano? Fácil é a resposta. Não aceitamos com igual confiança o ensino de todos os homens e, entre duas doutrinas, preferimos aquela cujo autor nos parece mais esclarecido, mais capaz, mais judicioso, menos acessíveis às paixões. Do mesmo modo se deve proceder com os Espíritos. Se entre eles há os que não estão acima da Humanidade, muitos há que a ultrapassaram; estes nos podem dar ensinamentos que em vão buscaríamos com os homens mais instruídos. É a distingui-los da turba dos Espíritos inferiores que devemos nos aplicar, se quisermos nos esclarecer, e é a essa distinção que conduz o conhecimento aprofundado do Espiritismo. Porém, mesmo esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos não é dado saber tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente aos homens.
Há coisas, portanto, sobre as quais será inútil interrogar os Espíritos, ou porque lhes seja defeso revelá-las, ou porque eles próprios ignoram e a cujo respeito apenas podem expender suas opiniões pessoais. Ora, são essas opiniões pessoais que os Espíritos orgulhosos apresentam como verdades absolutas. Sobretudo, acerca do que deva permanecer oculto, como o futuro e o princípio das coisas, é que eles mais insistem, a fim de insinuarem que se acham da posse dos segredos de Deus. Por isso, nesses pontos é que mais contradições se observam." (Capítulo XXVII - item 300.)
Sigamos, pois, o conselho de Erasto em "O Livro dos Médiuns" (capítulo XX, item 230):
“(...) Desde que uma opinião nova se apresenta, por pouco que nos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai ousadamente; vale mais repelir dez verdades do que admitir uma só mentira (...)”.
Em relação à postura de alguns com relação aos ditados dos Espíritos, Kardec comenta: “Os crentes apresentam três nuanças bem caracterizadas: os que não veem nessas experiências senão uma diversão, um passatempo... mas que não vão além. Há, em seguida, as pessoas sérias, instruídas, observadoras, às quais não escapa nenhum detalhe, e para as quais as menores coisas são objeto de estudo. Vêm, em seguida, os ultracrentes, os crentes cegos, aos quais se pode censurar um excesso de credulidade; aos quais a fé, insuficientemente esclarecida, lhes dá uma total confiança nos Espíritos, que lhes emprestam todos os conhecimentos e, sobretudo, a presciência...” (Revista Espírita de fevereiro de 1858 – Allan Kardec, IDE , 1ª edição – pág. 53.)

ARTUR FELIPE DE AZEVEDO FERREIRA
arturfelipeazevedo@msn.com
Goiânia, Goiás (Brasil)

fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano5/214/artur_ferreira.html

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