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sexta-feira, julho 01, 2022

Podemos curar no Centro Espírita?

Por Cláudio Luciano

Sem muita pretensão, queremos escrever algumas poucas palavras com o tema acima citado do Evangelho Segundo Mateus.

Temos ouvido a expressão, dita por medalhões do Movimento Espírita, de que o "Espiritismo não veio para curar corpos", para justificar que não devemos buscar, junto às pessoas que aportam à Casa Espírita, a cura de seus corpos, das doenças somáticas.

É bem verdade que não devemos colocar isto como a prioridade, eis que, a reforma moral é o ponto que mais deveria nos dizer respeito.

É bem verdade também, que o Espiritismo nos ensina a compreender nossas mazelas físicas, sejam aquelas decorrentes do passado ou do presente (1).

Mas, perguntamos: é proibido tentar curar os males físicos, se estiverem ao nosso alcance dentro do Centro Espírita? E, se é proibido, onde está a proibição?

Em matéria de Doutrina Espírita, a nossa base é e sempre será Kardec. Tudo o que analisarmos tem de passar pelo crivo kardequiano, venha de onde e de quem vier, não importando se é medalhão ou medalhinha.

A regra acima está contida (que coincidência!) na própria Codificação, mais especialmente em O Livro dos Médiuns, com destaque meu:

Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expedida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai destrambelhadamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre areia movediça, ao passo que, se rejeitardes hoje algumas verdades, porque não vos são demonstradas clara e logicamente, mais tarde um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável virá afirmar-vos a sua autenticidade (2)

Então, sem querer ser e já sendo redundante: venha de médiuns ou Espíritos, qualquer argumento deverá ser analisado pela regra firmada acima.

Vamos lá.

O que diz a Codificação sobre o assunto, onde iremos trazer excertos, rogando ao leitor que faça a leitura do trecho na íntegra para não pensar que queremos usar "um texto, fora de contexto, para dar um pretexto", pois queremos evitar que o artigo fique muito extenso (todos os destaque em negrito são meus).

Kardec questiona aos Espíritos e recebe a resposta:

27. Deve alguém pôr termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?

Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é consequência das vossas existências anteriores, são os juros da dívida que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam determinar

Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. Grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.

Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente (3)

É de uma clareza "solar", as afirmativas acima!

Então, fica a pergunta, se temos os recursos para levar a efeito a cura de alguém, dentro do Centro Espírita, devemos ou não agir? A qual orientação seguir, a de pessoas ou Espíritos que dizem o contrário ou a contida na Codificação?

Por que Allan Kardec inseriu a prece para  médium curador em O Evangelho Segundo o Espiritismo? (4)

Prece. (Para ser dita pelo médium curador.)Meu Deus, se te dignas servir-te de mim, indigno como sou, poderei curar esta enfermidade, se assim o quiseres, porque em ti deposito fé. Mas, sem ti, nada posso. Permite que os bons Espíritos me cumulem de seus fluidos benéficos, a fim de que eu os transmita a esse doente, e livra-me de toda ideia de orgulho e de egoísmo que lhes pudesse alterar a pureza.

Ainda falando em curas, Kardec teve a preocupação de tratar sobre os médiuns curadores (5):

Unicamente para não deixar de mencioná-la, falaremos aqui desta espécie de médiuns, porquanto o assunto exigiria desenvolvimento excessivo para os limites em que precisamos ater-nos. Sabemos, ao demais, que um de nossos amigos, médico, se propõe a tratá-lo em obra especial sobre a medicina intuitiva. Diremos apenas que este gênero de mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é do que magnetismo. Evidentemente, o fluido magnético desempenha aí importante papel; porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que há mais alguma coisa.

Em nenhum lugar da Codificação você encontrará Kardec descredenciando a mediunidade curadora ou a ação de curar.

Aliás, os próprios Espíritos, ao tempo de Kardec, se preocuparam em curar uma das médiuns atuantes de então (6):

(...) A 10 de fevereiro último, estávamos reunidos a convite de nossos guias que, diziam eles, queriam aliviar a Sra. G... de um entorse de que ela sofria cruelmente desde a véspera. Não sabíamos mais que isto, e estávamos longe de esperar a surpresa que nos preparavam. Imediatamente depois de ter entrado em estado sonambúlico, a dama soltou gritos lancinantes, mostrando o seu pé. Eis o que se passava:

A Sra. G... via um Espírito curvado sobre sua perna, mas as suas feições ficavam ocultas. Ele operava fricções e massagens, fazendo de vez em quando uma tração longitudinal sobre a parte doente, absolutamente como teria feito um médico. A operação era tão dolorosa que a paciente por vezes vociferava e fazia movimentos desordenados. Mas a crise não teve longa duração. Ao cabo de dez minutos todos os traços de entorse haviam desaparecido. Não havia mais inflamação, e o pé tinha retomado sua aparência normal. A Sra. G... estava curada.

Veja-se que, os próprios Espíritos agendaram a reunião para tentar curar a médium de uma entorse. Bom, se não pode curar, por que eles o fizeram? Por que essa preferência?

De fato, não devemos tomar o Espiritismo como meio de curar facilmente porque isto é inconveniente e inapropriado.

Nem mesmo os magnetizadores conseguem curar a todos porque, nessa equação, existem muitas variáveis que precisam ser consideradas.

O que nunca deve ser prometido é a cura, justamente por conta dessas variáveis, que não vamos analisar aqui pois o texto já vai muito extenso.

Por fim, insta salientar que, a cura tentada na Instituição Espírita, seja pelo tratamento espiritual, onde já tivemos vários casos de sucesso, seja pela magnetização que, segundo ensina Kardec "é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico" (7), não tem o condão de suspender qualquer tratamento médico ordinário, nem muito menos a medicação, que só pode ser suspensa pelo médico prescritor.

 

Referências:

1 - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5, itens 4 a 10;
2 - O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. 20, item 230, pelo Espírito Erasto;
3 - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5, item 27
4 - Idem Cap. 28, item 80;
5 - O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. 14, item 175;
6 - REVISTA ES´PIRITA, 04/1865  - poder curativo do magnetismo espiritual;
7 - O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. 14, item 175;


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